O relacionamento humano tende a criar problemas quando se confundem “cortesia” e “intimidade”. Todos merecem “cortesia”, mas, poucos são dignos de “intimidade”. Mesmo quando somos sinceros em relacionar, desejando que o melhor que desfrutamos o seja também por outrem, é possível equivocar.
Nem tudo o que oferecemos de melhor é retribuído com igualdade. Existe até caso em que pessoas de má índole utilizam contra nós o que lhes foi revelado ou oferecido em plena boa fé. Devemos viver para a prática do bem, não há dúvida e isso implica cortesia, mas, necessariamente, tal condição não precisa ensejar uma abertura que possa prejudicar-nos.
Por melhor que seja a semente se lançada sobre a pedra dificilmente germinará; assim, também, por melhor que seja a nossa intenção, por mais esforço que possamos despender no intuito de sermos agradáveis pouco ou nada disso adiantará quando a qualidade da pessoa a quem atribuímos tais sentimentos não enseja reciprocidade.
Se até ato de mera “cortesia” enseja ser interpretado como “assédio”, criando situações embaraçosas que se dizer de manifestações de intimidade? Coisas que julgamos “certas” podem ser vistas como “erradas” por terceiros ou até maliciosamente utilizadas. Intenções boas nem sempre possuem bom julgamento e facultam às vezes até servir de argumentos contrários a nós, utilizados deturpadamente por pessoas de “má fé”.
Como o que forma o nosso mundo particular depende de nossa “consciência” e como esta é peculiar, melhor será que nos mantenhamos “reservados” em relação a particularidades. As pessoas de “boa fé” são as que geralmente mais confundem em suas convivências “cortesia” com “intimidade” e julgando praticarem o bem acabam por ensejar o mal contra si mesmas.
Isso por que se doam além dos limites do razoável, permitindo desvelar tudo o que possuem na mente. Na realidade seria o ideal que pudéssemos ter como “íntimas” todas as pessoas com as quais convivemos, mas, isso, na prática, é impossível.
O que em verdade denominamos como “semelhante” tal coisa em sentido absoluto não é. A convivência com cortesia é recomendável, benéfica em seus limites, mas, a intimidade deve ser tratada com muitas restrições.
Nosso íntimo é algo tão sagrado que não devemos profaná-lo abrindo as portas de nosso templo interno a todos com os quais nos relacionamos, mas, apenas a quem realmente se tenha feito digno de nossa confiança.
Isso não implica manter distância com o nosso próximo, mas, apenas reservas que representam um respeito para conosco mesmo. Se não nos respeitamos não podemos esperar que alguém possa vir a respeitar-nos. Tal cuidado deve começar pelo resguardo em nossas atitudes para que não venham as mesmas a ser objeto de má utilização.
É prática eficaz no relacionamento ser aberto, mas, por analogia se pode evocar que as melhores portas possuem fechaduras, essas que em certas horas visam a evitar invasões gravosas.
Autoria: Antônio Lopes de Sá
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