Você tem concluído as suas comunicações?
Comunicar é algo fundamental na vida. O biólogo cultural Humberto Maturana afirma que a comunicação não é apenas “uma transmissão de informações, mas uma coordenação de comportamentos entre os organismos vivos, por meio de um acoplamento estrutural mútuo.”
Vamos entender melhor o que está envolvido nesta ‘coordenação de comportamentos’ e no ‘acoplamento estrutural mútuo’. Comunicar-se com alguém não consiste apenas na troca de palavras. Toda comunicação envolve muitos níveis de troca.
Temos, sim, as palavras que são ditas, mas também temos as palavras que não são ditas, apenas pensadas ou sentidas, consciente e inconscientemente.
Temos a emoção que motivou e se expressa na conversa e temos todas as emoções que estão associadas ao tema em questão e às diversas palavras que usamos na comunicação, para ambas as pessoas. Temos a energia empregada na comunicação, que é fornecida pelo conjunto destas emoções. Temos os gestos que expressam ou suprimem as emoções e os pensamentos que ambas as pessoas escolhem expressar ou ocultar no momento da comunicação.
Este conjunto de ‘comportamentos’ estão de algum modo coordenados e fazem com que ambas as pessoas envolvidas na comunicação fiquem ‘estruturalmente acopladas ‘ entre si. A coordenação destes comportamentos e a complexidade de seu acoplamento vão definir a eficácia desta comunicação e o seu resultado.
Para compreender isto melhor, pense em todas as vezes que você saiu de uma conversa com alguém, tendo a sensação de que você não disse o que queria e/ou não ouviu o que queria? E depois de se afastar e seguir seu caminho, a conversa continou acontecendo na sua cabeça, às vezes por dias seguidos, às vezes uma vida inteira?
Estas ‘conversas’ incompletas não apenas ocupam nosso espaço mental e emocional, pipocando sempre que abordamos algo que resvala no assunto em questão, elas também mantêm captiva parte de nossa energia, reduzindo nossa disponibilidade energética para outras questões.
Para nos comunicarmos com alguém, precisamos nos acoplar, ou seja, estabelecer uma conexão energética. Como fazemos isto? Quando encontramos uma pessoa e dizemos ’Bom Dia’, emitimos uma onda energética que carrega o som das palavras até a outra pessoa. Quando a pessoa retribui o cumprimento, ela envia esta onda de volta para mim e o ciclo se completa. A comunicação aconteceu e se completou. O acoplamento se fez e desfez e cada qual segue seu caminho.
Mas, se esta pessoa simplesmente nos ignora e não retorna nosso cumprimento, a onda que enviamos fica ‘flutuando’ por aí e a conversa continua na nossa cabeça, porque continuamos energeticamente acoplados. E não há explicação lógica que possa completar esta comunicação, a não ser que recuperemos nossa energia, isto é, desfaçamos o acoplamento.
Comunicar-se é vital, porque quando trocamos informações, nos enriquecemos mutuamente. Mas, quando carregamos conosco uma infinidade de comunicações não concluídas, continuamos acoplados e nossa energia é consumida, sem produzir um resultado satisfatório ou acrescentar algo à nossa vida. Com muitos ‘assuntos pendentes’, ficamos com pouca energia vital para criar coisas novas.
É como ter um monte de pequenas prestações a serem pagas no final do mês, de modo que todo nosso salário é consumido, impossibilitando-nos qualquer aquisição nova. Primeiro precisamos pagar todas estas prestações, para ter novamente recursos financeiros disponíveis para realizar algo novo, no momento presente. Concluir todas as comunicações é como pagar todas as nossas dívidas e passarmos a dispor novamente do nosso salário.
Concluir uma comunicação requer simplesmente que reconheçamos o que foi dito. Tudo que precisamos fazer é acolher a opinião do outro, agradecer por ele ter partilhado conosco, reconhecer o que foi dito, ou seja, retornar a onda que nos foi enviada.
Sabemos que concluímos uma comunicação, quando ela não fica mais girando na nossa cabeça, mobilizando nossa emoção e consumindo nossa energia. A comunicação aconteceu, cada pessoa recuperou sua energia, acrescida da informaçao que circulou pela comunicação. Como vamos usar a informação assimilada depende exclusivamente de nossa própria escolha.
Concluir uma comunicação não significa chegar a um consenso, não significa concordar ou aprovar o que a outra pessoa disse. Podemos concluir uma comunicação e seguir adiante, divergindo absolutamente da outra pessoa.
Apenas precisamos confirmar que ouvimos o que o foi dito, para colocarmos um ponto final na comunicação em pauta e estarmos livres para seguir adiante.
Mas é importante escolher bem este ponto final, caso contrário, estaremos apenas continuando a comunicação, ou seja, mantendo o acoplamento estrutural, energético. Se uma pessoa me conta algo e eu faço um comentário qualquer, não estou concluíndo a conversa, apenas fornecendo um elo para continuar com ela. Para concluir uma conversa, podemos, por exemplo, dizer simplesmente ‘obrigado’, ou ‘entendi’, ou talvez ‘ouvi o que você disse’.
Descubra suas próprias expressões para concluir uma comunicação!
Autoria: Monika Von Koss
Nenhum comentário:
Postar um comentário