"... Chega um momento, depois de algum caminho percorrido, em que a
gente pode até considerar que avançou menos do que supunha, mas entende
ter avançado o máximo que conseguiu até então. E a gente agradece, com
gentileza e compaixão por todos os caminhantes, porque somente quem
caminha sabe o valor, o tamanho, a conquista, de que é feita a história
de cada único passo. Há quem pare no meio da estrada e se enrede no
suposto cansaço que mente o medo de prosseguir.
Há quem corra tão freneticamente de si mesmo que nem percebe a paisagem
ao seu redor. Há quem pareça recuar dois passos para cada um alcançado.
No fim das contas, todos avançam, de uma forma ou de outra, ainda que,
aos próprios olhos e aos alheios, o avanço seja imperceptível. E, nos
trechos da jornada em que já é possível caminhar com mais atenção,
respirando os sentimentos singulares de cada passo, a gente percebe que
não há exatamente um lugar onde chegar. Nós somos o lugar. A gente
percebe que pode aprender a relaxar e a usufruir também da viagem e que
essa é forma mais hábil e generosa de avanço. Não há movimento que se
assemelhe àquele que nasce de um coração contente...
Autoria: Ana Jácomo
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